Houve um tempo em que diversão eletrônica cabia em cartuchos coloridos e tardes de domingo cheirando a plástico novo. A televisão, antes reservada aos telejornais e novelas, deu lugar a mundos onde encanadores enfrentavam tartarugas e ouriços corriam mais rápido que o som. O que começou como passatempo de poucos virou arena de uma das disputas mais emblemáticas da era digital. Mas afinal, o que está realmente em jogo na chamada “guerra dos consoles”?
Do Atari ao PlayStation: A história em 8, 16 e 32 bits
Nos anos 1980, o Atari 2600 surgiu como pioneiro. Um monolito preto e marrom que levava, pela primeira vez, o videogame para dentro de casa. Era rudimentar, mas mágico. Logo vieram os japoneses. A Nintendo, com o NES, estabeleceu não só um padrão técnico, mas também uma identidade cultural. Do outro lado, a Sega respondia com o Master System e depois com o Mega Drive, marcando uma era de slogans inflamados e rivalidades acirradas. O marketing daquela década parecia mais uma provocação entre torcidas organizadas: “Genesis does what Nintendon’t.”
Nos bastidores, no entanto, algo se preparava para mudar tudo. Quando a Sony lançou o primeiro PlayStation, em 1994, a indústria virou de cabeça para baixo. Em menos de uma década, o nome “PlayStation” virou sinônimo de videogame em muitos lares. A Sega, enfraquecida por apostas ousadas e fracassos como o Saturn e o Dreamcast, deixou o campo de batalha. Permaneceram os dois gigantes japoneses Sony e Nintendo, até que um novo jogador cruzou o Pacífico.
A Tríade Moderna: Sony, Microsoft e Nintendo
Em 2001, a Microsoft estreou com o Xbox. Muitos duvidaram. Uma empresa de software se aventurando no mundo dos consoles? Mas o sucesso do Xbox 360, lançado em 2005, consolidou sua presença. Desde então, a indústria se equilibra sobre três pilares: PlayStation, Xbox e Nintendo.
Cada uma dessas empresas escolheu um caminho. A Sony dobrou a aposta na potência gráfica e nas narrativas profundas. A Microsoft respondeu com conectividade, serviços e acessibilidade. E a Nintendo… bem, a Nintendo continuou sendo a Nintendo, sempre um passo ao lado do caminho previsível.
O Wii, lançado em 2006, parecia um brinquedo comparado aos concorrentes. Mas vendeu mais de 101 milhões de unidades, superando ambos. Depois veio o tropeço do Wii U, seguido pela reinvenção: o Nintendo Switch, em 2017, misturou o melhor dos mundos portátil e doméstico. Resultado? Mais de 140 milhões de unidades vendidas até 2025, ultrapassando o Game Boy e o PS4. E agora, em 2025, a empresa anunciou o Nintendo Switch 2, prometendo gráficos mais próximos da nova geração, retrocompatibilidade com a biblioteca anterior e um modelo híbrido ainda mais refinado. O anúncio, ocorrido em março, causou uma comoção: ações da Nintendo subiram 14% em uma semana, e a pré-venda já indica números promissores.
A Guerra Atual: Entre o Poder e o Propósito
Na atual geração, temos o PlayStation 5, Xbox Series X/S e o Nintendo Switch 2. Mas a disputa já não é apenas por potência bruta. É uma luta silenciosa por tempo, por atenção e por afeto.
O PS5 lidera em vendas: mais de 59 milhões de unidades comercializadas até maio de 2025, segundo a VGChartz. Com exclusivos como God of War: Ragnarok e Spider-Man 2, a Sony continua seduzindo jogadores com experiências imersivas, visuais cinematográficos e histórias que tocam fundo. É como ir ao cinema com o controle nas mãos.
A Microsoft, por sua vez, joga outro jogo. Com a aquisição da Activision Blizzard por US$ 68,7 bilhões, ampliou seu portfólio de franquias e apostou forte no Xbox Game Pass, que já ultrapassou 34 milhões de assinantes. Seu foco é a nuvem, a acessibilidade, o futuro em que você joga no celular, no computador ou na TV, sem precisar de um console sequer.
E a Nintendo? Ela parece não disputar a mesma corrida. Ainda assim, conquista. Zelda: Tears of the Kingdom, Animal Crossing e Super Mario Wonder mostram que seus jogos não são apenas softwares são lembranças em potencial, pedaços de infância tardia, convites à imaginação.
Henry Jenkins, pesquisador do MIT, resumiu bem: “Os jogos não são apenas entretenimento, mas plataformas de imaginação coletiva.” Talvez seja por isso que essa guerra não seja sobre gráficos ou processadores, mas sobre quem entende melhor a alma do jogador.
Os Vencedores da História: Números, Memória e Legado
Se olharmos para trás e fizermos o levantamento frio dos números, o título de maior vitoriosa histórica pertence à Nintendo a pesar do primeiro lugar se da Sony seus consoles ocupam três das cinco primeiras posições de mais vendidos na história. Eis o ranking atualizado:
- PlayStation 2 (Sony) – 155 milhões
- Nintendo DS – 154 milhões
- Nintendo Switch – 140 milhões (e crescendo)
- Game Boy / Game Boy Color – 118 milhões
- PlayStation 4 (Sony) – 117 milhões
A Nitendo no mercado portátil também lidera no número de franquias icônicas Mario, Zelda, Pokémon e domina o mercado desde os anos 1990. A Sony, embora com menos produtos no top 5, possui a marca mais consistente em consoles domésticos, com todos os seus PlayStations ultrapassando a marca dos 80 milhões e exclusivos marcantes como God of War, The Last of Us , Uncharted entre outros. Já a Microsoft, mesmo sem liderar em hardware, mostra resiliência: o Xbox 360 passou dos 85 milhões e o Xbox Series X/S se mantém firme com cerca de 28 milhões de unidades vendidas, apesar da forte competição.
