Era uma vez um tempo em que jogar videogame era como herdar um disco do Raul Seixas: limitado, riscado, mas intensamente vivido. Para quem nasceu nos anos 80 igual a mim sabe o quanto era difícil melhorar ou expandir a biblioteca de jogos, eu mesmo passei seis meses jogando Brush Roller no meu possante Turbo Game da CCE. Depois de três meses limpando ou pintando, seja lá o que era aquilo que eu fazia, já estava totalmente saturado, no aguardo de pelo menos outro jogo. Essa espera era real e dolorosa. A cada cartucho novo, uma epifania. A cada troca no recreio da escola, um tratado diplomático.

Dos Jogos Cartuchos Escassos aos Catálogos Incontáveis
Naquela época, o acesso era físico e financeiro: jogos vinham em cartuchos caros, muitas vezes importados, e eram raramente lançados em português. Não existiam promoções digitais, muito menos armazenamento em nuvem. Segundo pesquisa do IBGE de 1992, apenas 8% das famílias brasileiras tinham acesso a um console de videogame, e ainda menos tinham mais de três jogos. A experiência era marcada pela repetição: jogávamos o mesmo game até a exaustão, muitas vezes sem conseguir salvá-lo.
Hoje, o cenário mudou de forma tão radical quanto o som de uma fita VHS substituída por streaming 4K. O acesso aos jogos tornou-se democrático — ao menos, em comparação ao passado. Plataformas como a PlayStation Plus e o Xbox Game Pass transformaram a relação do jogador com seu acervo: não se trata mais do que se pode comprar, mas do que se pode descobrir. É a lógica do “buffet interativo”: você paga uma mensalidade e degusta o quanto quiser.
Playstation Plus vs Game Pass: Uma Análise com Dados
Ambos os serviços oferecem modelos por assinatura que variam em preço e escopo, mas compartilham o mesmo espírito: acesso contínuo a uma biblioteca robusta de jogos.
PlayStation Plus
É dividido em três categorias:
- Essential (R$ 43,90/mês): jogos mensais, multiplayer online, descontos exclusivos.
 - Extra (R$ 65,90/mês): inclui centenas de jogos de PS4 e PS5.
 - Deluxe (R$ 76,90/mês): todos os benefícios anteriores + catálogo clássico de PS1, PS2 e PSP + testes de jogos por tempo limitado.
 
Xbox Game Pass
Mais simplificado, mas expansivo:
- Console ou PC (R$ 35,99/mês): acesso a centenas de jogos, incluindo lançamentos da Microsoft no dia 1.
 - Game Pass Ultimate (R$ 59,99/mês): inclui PC, console, nuvem (xCloud), EA Play e benefícios extras como Xbox Live Gold.
 
Segundo relatório de do primeiro trimestre de 2025 da Statista, o Game Pass já acumulava mais de 37 milhões de assinantes, contra os 51,6 milhões do PlayStation Plus. Mas a diferença numérica esconde nuances: enquanto o PS Plus é mais voltado para manter jogadores na plataforma, o Game Pass investe em descoberta e acesso imediato. Como destaca Piers Harding-Rolls, analista da Ampere Analysis: “O Game Pass moldou uma nova expectativa de valor para os consumidores, empurrando o mercado para uma lógica mais parecida com a Netflix.”
Entre Clássicos e Descobertas: Um Olhar Crítico
É verdade que ambos os serviços representam um salto qualitativo impressionante em relação ao passado, mas não sem suas arestas. O PlayStation Plus, por exemplo, ainda é refém da fragmentação: muitos jogadores se frustram com a rotatividade dos títulos e a ausência de grandes lançamentos no plano Extra. Além disso, a promessa do catálogo retrô, embora nostálgica, é rasa e pouco atualizada.
Já o Game Pass brilha em outro aspecto: aposta em lançamentos no Day One um luxo impensável na era dos cartuchos. Jogos como Starfield e Hellblade II estrearam diretamente no serviço, reforçando o valor da assinatura. O xCloud, que permite jogar via nuvem em qualquer dispositivo, é o verdadeiro diferencial: algo que parece mais ficção científica do que entretenimento doméstico.
Contudo, nenhum deles é perfeito. O Game Pass, apesar de ousado, sofre com o volume excessivo: há tanto a jogar que o jogador médio muitas vezes se vê paralisado uma espécie de “síndrome do Netflix gamer”. Já o PS Plus, embora mais estável, raramente ousa surpreender.
Entre a Nostalgia e o Futuro: Uma Escolha Que Vale a Pena
Se me perguntarem qual é melhor, respondo com uma metáfora: o PS Plus é como uma boa videolocadora de bairro organizada, confiável, mas com poucas surpresas. O Game Pass é o fliperama de shopping: barulhento, vibrante, caótico mas impossível de ignorar.
A verdade é que ambos os serviços representam algo que minha geração jamais imaginou viver: acesso irrestrito ao melhor do mundo dos jogos, por uma fração do custo de um único cartucho. É como ter todos os Brush Rollers do mundo à disposição e finalmente poder escolher o que realmente se quer jogar.
Aos que ainda hesitam em assinar, deixo uma provocação: se antes esperávamos meses por um cartucho novo, por que agora não aproveitar um universo de jogos ao alcance de um clique? Porque no fim das contas, expandir sua biblioteca de jogos nunca foi tão fácil nem tão emocionante.
                                    